sexta-feira, 13 de abril de 2012

O DIA EM QUE ME TIRARAM O OXIGÊNIO

 "Em cada homem há dois que dançam - o pulmão direito e o esquerdo.
Os pulmões dançam e o homem recebe oxigênio. Se você pegar uma pá e bater no peito de um homem na altura dos pulmões, as danças param. Os pulmões não dançam mais, o oxigênio não chega." (fragmento do texto Oxigênio, de Ivan Viripaev).

De como eu fui atingida pela pá.
Eu Sacha, ela Sacha. Numa noite comum de um dezembro qualquer fui atingida por uma pá na altura dos pulmões. Cambaleei, me retorci, estrebuchei no chão. Sacha tirou de mim naquele momento o que é o meu oxigênio: a crença no ser humano e a esperança de um mundo melhor. A pá com a qual Sacha me acertou em cheio os pulmões, tanto o direito como o esquerdo, chegou carregada de individualismo, de valores imediatos e hedonistas. Tentei mostrar a ela que não é apenas do aqui e agora que contruimos nossas vidas. Tentativa vã. O coração de Sacha não guarda nada, Sacha não preserva a memória, só o agora lhe basta. A luta continuou, nos emaranhamos mais e mais com palavras e luta corporal. Sacha não se contentou em me ver ali sangrando, para ela aquele sangue era nada, e pegou novamente a pá que havia me acertado há pouco e a encheu com meus defeitos e fragilidades e deu então seu último golpe que atingiu ferozmente o meu pulmão esquerdo. Fui nocauteada, perdi a batalha frente a perversidade de Sacha e morri ali mesmo, no passeio da rua.