Penélope Vaticana - Museu Pio-Clementino - Roma |
Hoje comecei a desatar os nós e os laços da trama do tapete que ganhei. Como Penélope, quando a noite chega e todos dormem, estendo o tapete na mesa da sala e frente a ele com a mesma agulha com a qual foi tecido desfaço nó por nó. Não é trabalho fácil porque os nós estão sedimentados pelo tempo e apertados com tamanha força que chego a pensar que jamais conseguirei desmanchá-los. Tento então afrouxá-los, um a um. Os laços, não os encontro. A memória que se revela na combinação das cores e na repetição das formas vai pouco a pouco se diluindo. No desencontro dos fios sigo descobrindo outros caminhos que serão tecidos em outro enredo de um novo tapete. Supero os perigos da noite escura e ao amanhecer componho os laços que não encontrei. Assim vou entrelaçando ponto por ponto criando novos desenhos, novas matizes e destituida de afeto me protejo, me aqueço, me cuido à espera de mim.
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