sábado, 26 de maio de 2012

CARTAS QUE ESCREVI A FREUD (1)

Outono de 2012
Prezado Dr. Freud


   Desde o nosso último encontro muitas coisas aconteceram. Recuperei meu ânimo e a vontade de trabalhar, e nas horas vagas, que são poucas, consigo ver o sol se pôr.
   Não há dúvida de que a sua teoria e as nossas conversas muito tem me ajudado no meu processo de libertação. Também o meu curso de Psicologia tem contribuido para que eu desenvolva meu auto conhecimento. Nas aulas sobre as teorias da personalidade tenho conhecido os seus seguidores que mais tarde romperam, mas que trazem em suas teorias o suporte dado pelas suas descobertas frente à construção psíquica. Gosto de Jung quando  fala sobre o coletivo, a persona e a abordagem mítica dos símbolos. Por Skiner não nutro grande admiração. Não acredito que a cura do sintoma elimine aquilo que os desencadeia, a mim parece mais uma ideia vinda da América que preza pela  necessidade do imediatismo. Adler com a sua proposta de superação e seus conceitos de inferioridade e superioridade agradam a qualquer um. Entendo bem a sua resistência a ele: pouco à sistematização e muito ao senso comum. Agora estudo Reich com seus conceitos sobre a função do orgasmo e uma vida sexual infinitamente mais livre que muito me agradam.
   Quanto a minha alma, ainda me debato com a  proposta de comportar-me honrosamente, a poupar os outros e a ser boa sempre que possível, e por que não parei de fazê-lo quando me dei conta de que desta maneira a gente chega a fazer-se mal e se torna alvo porque algumas pessoas são brutais e indignas de confiança, então realmente não tenho resposta. Acredito ser isso parte de minha herança. Se pelo menos mais um pouco dessa preciosa herança pudesse ser encontrada em alguns seres humanos!
   Pouco a pouco tenho expulsado meus complexos infantis e soltado minha pele velha deixando-a com meu psicanalista através da transferência e assim o meu ganho terapêutico tem sido a troca da qual tantas vezes conversamos. A harmonia entre minha realidade interna e externa dia a dia se consolida. Tenho caminhado bem Dr. Freud!
   Agradeço imensamente suas felicitações pela passagem do meu aniversário e me despeço aqui desejando poder revê-lo em breve.
   Afetuosamente,                                                                                                 Astrid Richter

segunda-feira, 21 de maio de 2012

ALFRED ADLER E A PSICOLOGIA INDIVIDUAL




 Billy Elliot é filho caçula, com 11 anos, órfão de mãe. Elliot mora ao norte da Inglaterra com a avó (em estado senil), o pai e seu único irmão mais velho, ambos mineradores, que lutam por melhores condições de trabalho e salário atuando em  movimentos grevistas. É possível fazer um paralelo entre um dos princípios fundamentais da teoria de Adler que se refere ao interesse social e ao sentimento de comunidade com o comportamento do pai e do filho mais velho. Tanto um quanto o outro vivem impulsionados pela busca da superação do sentimento de inferioridade causado pelos baixos salários, péssimas condições de trabalho e pela precária qualidade de vida. Também a agressão pela luta da superioridade  funcionou como incentivo para a superação desses obstáculos.  Sob a ótica da teoria adleriana em relação à posição na ordem de nascimento, o irmão mais velho exerce poder sobre o mais novo e está subordinado ao pai. Por essas razões o modelo de homem imposto à Billy, que está entrando na adolescência, é o da agressividade e do uso da força física como forma de defesa de seus conflitos. Elliot é obrigado a aprender a lutar box e torna-se claro no decorrer do filme o desagrado que isso lhe causa. O menino tem uma personalidade diferente do pai e do irmão, pois carrega traços da mãe que nas suas lembranças foi uma mulher sensível e dócil. Na sua primeira ida à academia de box  Billy resiste em lutar e observa que simultaneamente ao box, na sala ao lado, havia aula de ballet. Ele se interessa pela dança e abandona a luta sem que seu pai saiba. A partir dessa escolha inicia-se o tema principal do filme que é a batalha pela quebra de paradigmas de uma comunidade machista e oprimida e de uma família na qual prevalece a ideia de que a força física é a grande arma para se enfrentar os conflitos da vida.
O problema que se segue surge da resistência do pai e do irmão em aceitarem a ideia de que Billy Elliot se tornasse um bailarino, pois numa comunidade em que a  força  era sinal de virilidade a escolha pelo ballet parecia encaminhar o filho mais jovem à homossexualidade. Porém, movido pelo reconhecimento de seu talento pela professora de ballet e pelo seu prazer em dançar, Billy internaliza algumas das premissas básicas da teoria de Adler: o de ser o individuo uma entidade criativa, autodeterminada,  unificada e coerente e também a subjetividade individual  demonstrada através da sua habilidade em lidar com as proibições impostas e por  não desistir de lutar pelo seu ideal em ser bailarino. Através do seu objetivo e estilo de vida como o centro de realização Elliot transgride  regras e consegue demonstrar o poder criativo do self não aceitando passivamente os modelos, criando dessa forma o seu próprio destino. Pode-se também aqui analisar a questão da posição na ordem de nascimento. Sendo o protagonista do filme o filho caçula da família observa-se a característica de um amadurecimento rápido e a marca de um grande realializador naquilo que almejava
Torna-se claro através do filme Billy Elliot alguns conceitos básicos da teoria adleriana sobre a natureza humana como a superação frente aos conflitos, o otimismo e o livre arbítrio. Diferente de Freud, de quem sofreu grande influência, Adler coloca o homem como condutor do seu destino fugindo assim do determinismo abordado pela psicanálise. O ser humano deixa de ser vítima da sua história pregressa e através da experiência tem o poder de transformar  as tendências herdadas em força criativa.  Dessa maneira, Billy Elliot constroi o seu próprio relacionamento com o mundo  ao enfrentar e superar as barreiras impostas a ele na busca do seu ideal em se tornar um famoso dançarino.

sábado, 19 de maio de 2012

O CASACO

A noite prometia ser fria. Parada em frente ao guarda-roupa escolhi o casaco que iria me aquecer. Vesti-o e ao colocar minhas mãos nos bolsos apalpei algo que não consegui identificar. Me lembrei que desde o inverno passado eu não o usara. Tirei então do bolso esquerdo o objeto desconhecido. Era um frasco de floral que eu mandara fazer para Sacha. Lembro-me ainda quando escolhi os florais do Dr. Bach que iriam compor o remédio: Aspen, para os medos; Wild Oat, para a insatisfação frente a vida e lentamente fui desmembrando aquilo que seria a chave para a cura interior. Sempre tive muito cuidado com Sacha, cuidava da sua alimentação, do seu intelecto, do seu corpo. Porém, o floral para a cura da alma ficara no bolso do casaco verde.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

EU E O TEATRO

EROS E THANATOS ME DÃO DE COMER
A PERSONA SOBE AO PALCO
T R A N S F O R M A
MISTURO OS GESTOS
A MÚSICA A PALAVRA
INICIA-SE A CATARSE