Billy
Elliot é filho caçula, com 11 anos, órfão de mãe. Elliot mora ao norte da
Inglaterra com a avó (em estado senil), o pai e seu único irmão mais velho,
ambos mineradores, que lutam por melhores condições de trabalho e salário
atuando em movimentos grevistas. É
possível fazer um paralelo entre um dos princípios fundamentais da teoria de
Adler que se refere ao interesse social e ao sentimento de comunidade com o
comportamento do pai e do filho mais velho. Tanto um quanto o outro vivem
impulsionados pela busca da superação do sentimento de inferioridade causado
pelos baixos salários, péssimas condições de trabalho e pela precária qualidade
de vida. Também a agressão pela luta da superioridade funcionou como incentivo para a superação desses
obstáculos. Sob a ótica da teoria
adleriana em relação à posição na ordem de nascimento, o irmão mais velho
exerce poder sobre o mais novo e está subordinado ao pai. Por essas razões o
modelo de homem imposto à Billy, que está entrando na adolescência, é o
da agressividade e do uso da força física como forma de defesa de seus
conflitos. Elliot é obrigado a aprender a lutar box e torna-se claro no
decorrer do filme o desagrado que isso lhe causa. O menino tem uma personalidade
diferente do pai e do irmão, pois carrega traços da mãe que nas suas lembranças
foi uma mulher sensível e dócil. Na sua primeira ida à academia de box Billy resiste em lutar e observa que
simultaneamente ao box, na sala ao lado, havia aula de ballet. Ele se interessa
pela dança e abandona a luta sem que seu pai saiba. A partir dessa escolha inicia-se
o tema principal do filme que é a batalha pela quebra de paradigmas de uma
comunidade machista e oprimida e de uma família na qual prevalece a ideia de
que a força física é a grande arma para se enfrentar os conflitos da vida.
O problema que se segue surge da
resistência do pai e do irmão em aceitarem a ideia de que Billy Elliot se
tornasse um bailarino, pois numa comunidade em que a força
era sinal de virilidade a escolha pelo ballet parecia encaminhar o filho
mais jovem à homossexualidade. Porém, movido pelo reconhecimento de seu talento
pela professora de ballet e pelo seu prazer em dançar, Billy internaliza
algumas das premissas básicas da teoria de Adler: o de ser o individuo uma
entidade criativa, autodeterminada, unificada e coerente e também a subjetividade
individual demonstrada através da sua
habilidade em lidar com as proibições impostas e por não desistir de lutar pelo seu ideal em ser
bailarino. Através do seu objetivo e estilo de vida como o centro de realização
Elliot transgride regras e consegue
demonstrar o poder criativo do self não
aceitando passivamente os modelos, criando dessa forma o seu próprio destino.
Pode-se também aqui analisar a questão da posição na ordem de nascimento. Sendo
o protagonista do filme o filho caçula da família observa-se a característica
de um amadurecimento rápido e a marca de um grande realializador naquilo que
almejava
Torna-se claro através do filme Billy Elliot alguns conceitos básicos da
teoria adleriana sobre a natureza humana como a superação frente aos conflitos,
o otimismo e o livre arbítrio. Diferente de Freud, de quem sofreu grande
influência, Adler coloca o homem como condutor do seu destino fugindo assim do
determinismo abordado pela psicanálise. O ser humano deixa de ser vítima da sua
história pregressa e através da experiência tem o poder de transformar as tendências herdadas em força criativa. Dessa maneira, Billy Elliot constroi o seu
próprio relacionamento com o mundo ao
enfrentar e superar as barreiras impostas a ele na busca do seu ideal em se
tornar um famoso dançarino.
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